A produtividade está estritamente relacionada à qualidade, ou seja, não basta eu entregar uma obra, uma etapa com celeridade, sem me atentar ao projeto, às especificações dos materiais, à mão de obra que irá executar a instalação ou aplicação de determinados sistemas. Quando falamos de segurança contra incêndio e a sua relação com produtividade, é muito claro que a qualidade deve estar presente do primeiro dia de operação até um possível sinistro de incêndio. É por isso que entendo que existe, sim, uma relação positiva entre produtividade e qualidade, que explicarei ao longo deste artigo.

PRODUTIVIDADE E QUALIDADE

A primeira relação, está no campo da Produtividade e a Qualidade da Segurança Contra Incêndio. As medidas de proteção ativa e passiva contra incêndio são complexas – isso porque elas nem sempre são colocadas à prova no primeiro dia que o edifício entra em operação. Toda a rastreabilidade do que foi instalado pode somente mostrar a sua efetividade quando um incêndio ocorrer; e isto pode levar anos para acontecer ou simplesmente nunca ocorrer. Por este motivo, entendo que a produtividade neste caso está muito associada ao papel das incorporadoras e principalmente a um projeto multidisciplinar bem pensado, bem elaborado e amplamente discutido e à constante manutenção, testes quando possíveis e inspeções bem realizadas.

Infelizmente não é incomum encontrarmos edifícios com as chaves entregues e que, no momento da vistoria dos Bombeiros, são notificadas por inúmeras pendências ou de sistemas que simplesmente não foram instalados, ou que não funcionam adequadamente. Exemplo disso são edifícios em estruturas metálicas que não recebem a proteção passiva, paredes de compartimentação por serem construídas, sinalização e iluminação de emergência inadequados, ausência de controle de materiais de acabamento e revestimento, inexistência de selagem corta-fogo em sistemas prediais e muitos outros problemas não acompanhados pelos seus responsáveis. E é exatamente neste ponto que entra uma das questões da produtividade em relação a sistemas de segurança contra incêndio. Imagine quão mais custoso e improdutivo será remediar um edifício com medidas que foram esquecidas, negligenciadas ou mal instaladas na fase inicial?

A seguir, utilizaremos um exemplo, para a melhor compreensão de um sistema de compartimentação vertical em edificações, comumente utilizado para evitar a passagem do fogo através das tubulações dos sistemas hidráulicos, tanto em prumadas como em shafts visitáveis. São conhecidas como fitas ou anéis intumescentes, contendo um material que se expande em contato com o calor, instaladas ao redor das tubulações plásticas, a sua função é de vedar estas passagens, caso um sinistro de incêndio ocorra em uma unidade autônoma.

Figura 2 – Fitas intumescentes instaladas manualmente, aguardando fôrma de madeira e concretagem. Fonte: Arquivo ABPP®

OS PROBLEMAS NO MÉTODO CONVENCIONAL DE FITA INTUMESCENTE

Imagine como seria para um trabalhador instalar 1.000 unidades desta fita intumescente em um edifício, mantendo a velocidade e qualidade desejada? Usualmente instaladas de forma manual por um trabalhador, que deve cortá-la na circunferência correta, amarrar uma abraçadeira ou adesivo no entorno, construir uma fôrma de madeira com furos circulares, preparar o concreto e levar pavimento a pavimento a quantidade correta e despejar o concreto no espaço da fôrma. São inúmeras atividades em diversos passos que dependem de uma série de recursos e levam muito tempo.

Enquanto o concreto cura, não é possível levar a fôrma para outro shaft, e esta fôrma não serve adequadamente a todos os pavimentos. Isso começa a gerar muitas ineficiências que afetam e complicam o processo como um todo.

Não é incomum encontrar nas obras, fitas intumescentes desprendidas de suas tubulações, posicionadas de forma incorreta, utilizando o número de camadas incorreto, ou simplesmente esquecidas e ausentes no momento da concretagem. Estes aparentes “pequenos” problemas, podem se tornar uma grande tragédia no futuro, e o pior, você não consegue mais verificar e corrigir a falha, depois que os sistemas foram concretados.

Outro fato é que a mão de obra empregada deve ser bem capacitada e constantemente acompanhada para certificar que as fitas foram corretamente instaladas, muitas construtoras registram fotograficamente cada pavimento, antes da concretagem, produzindo uma quantidade imensa de documentos e arquivos para arquivar e ter a rastreabilidade.

Ocorrem também os desperdícios, as fitas chegam em rolos e sobram muitos retalhos que não formam uma circunferência completa e acabam sendo descartados, o que geram perdas. Por fim, shafts e prumadas com limitado espaço de trabalho, faz com que uma simples fita possa demorar muito mais tempo para ser instalada corretamente.

 TECNOLOGIA PARA A PRODUTIVIDADE COM QUALIDADE

A produtividade e as tecnologias inovadoras têm sido empregadas em obras de forma a melhorar o resultado final, a avaliação do custo-benefício, muitas vezes demora a ser percebido, até que sua equipe acompanhe, planilhe e tire as suas próprias conclusões sobre os prós e contras dos sistemas disponíveis no mercado.

Algumas delas têm trazido resultados expressivos para as construtoras em questões como produtividade de mão-de-obra, rapidez de implementação e aproveitamento da capacidade instalada de pessoas e equipamentos. Com a mesma função de compartimentação vertical, trata-se de um dispositivo similar à uma luva simples com fixadores e em sua circunferência exterior, a fita intumescente devidamente acoplada. A sua principal vantagem está em economizar etapas, ela pode ser incluída na etapa da concretagem da laje.

Figura 3 – Concretagem da laje com passantes corta-fogo posicionados, indicados pelas setas verdes. Fonte: Arquivo ABPP®

Figura 4 – passante corta-fogo. Fonte: Arquivo ABPP®

Proposto como uma solução inovadora e produtiva, foi inventado há cerca de uma década e está se popularizando entre os fabricantes de sistemas de firestop e selagem corta-fogo. No exterior, é conhecido como sistema “cast-in”, já no Brasil o conhecemos como passante corta-fogo intumescente. Alguns foram desenvolvidos entre fornecedores e construtoras, com o objetivo de aumentar a produtividade das obras e reduzir custos globais. O dispositivo foi desenvolvido pronto para uso, ou seja, não necessita de cortes, gabaritos, cintas metálicas extras, conforme ilustração da Figura 6 e pode simplesmente ser posicionado e pregado antes da concretagem da laje, evitando retrabalhos mais adiante. Sua configuração é modular, o que permite o agrupamento de passantes para diferentes diâmetros e a sua confecção com antecedência à posicionamento na laje.

As vantagens são claras pois você evita os problemas usuais que existem na instalação manual, não corre o risco de deixar uma tubulação sem a fita intumescente, pois se o mesmo não for instalado, a tubulação a ser passada acusará o erro. Também não terá uma mão de obra intensiva de corte e instalação, além da equipe de qualidade tendo de acompanhar duplamente a atividade.

Figura 5 – Ensaio de resistência ao fogo de passantes corta-fogo em laboratório. Foto: Arquivo ABPP®

Figura 5b – Ensaio de resistência ao fogo de passantes corta-fogo em laboratório. Foto: Arquivo ABPP®

Figura 7 – Imagem de câmera térmica ilustrando o gradiente de temperatura nas tubulações durante ensaio de resistência a fogo. Foto: Arquivo ABPP®

Tabela 1 – Comparação de atributos de produtividade do método convencional versus passante corta-fogo.

O exemplo utilizado no artigo, ilustra muito bem que é possível aumentar a produtividade, aumentando qualidade e a segurança contra incêndio de uma edificação, estes ganhos devem sempre ser levados em consideração. Não avalie somente o custo unitário de um produto, avalie o cenário por completo, do começo ao fim do processo. É de responsabilidade das equipes realizar este exercício frequentemente com suas equipes.

Alguns desafios ainda devem ser superados com estes passantes corta-fogo, como a questão de ralos e vasos sanitários, onde a instalação é um pouco mais complexa, a questão de posicionamento e resistência a abrasão e impactos de mangueiras, equipamentos e as malhas metálicas, mas certamente já está sendo empregado em maior escala e com os cuidados necessários em obra.

Por fim, o ponto mais importante da produtividade e sua relação com as medidas de segurança contra incêndio é que a preservação de vidas não tem preço e o tempo não volta atrás. Não precisamos esperar uma tragédia acontecer para começarmos a nos preocupar com a produtividade aliada à qualidade. Se eu consigo reduzir custos sem comprometer a segurança das pessoas, então vamos adiante: aumente sua produtividade, mas faça de forma técnica, consciente e mensurável. Tenha sempre um projeto de qualidade, antecipe os riscos, invista na qualidade, rastreabilidade – e saiba que esses fatores também compõem os valores e os resultados da sua organização.

Rogério Lin, Diretor-Presidente da ABPP,  Associação Brasileira de Proteção Passiva Contra Incêndio

*Foto destaque: Incêndio do Edifício Wilton Paes de Almeida em 01/05/2018 (ausência de compartimentação vertical). Fonte: DW/Deutsche Welle

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