* Ana Maria Castelo
* Laura Marcellini
* Iuri Viana
Em março último, a Sondagem da Construção incluiu algumas questões relativas ao Building Information Modeling (BIM), com o objetivo de verificar o conhecimento e uso da tecnologia entre as empresas da construção. O tema foi tratado neste post no Blog do Ibre, publicado em abril. A pesquisa foi realizada novamente em setembro, com novas questões, desta vez buscando saber quais as fases de uso, assim como as razões para a não utilização da tecnologia.
Confirmando a pesquisa anterior, a sondagem apontou um percentual pequeno de empresas reportando o uso do BIM – apenas 7,5%. Esse percentual chega a 14,8% entre as empresas de edificações residenciais. As empresas de instalações (sistemas de ar condicionado, de ventilação e refrigeração, Instalações hidráulicas, sanitárias, de gás e de sistema de prevenção contra incêndio) também se destacam nesse pequeno clube – 10,7% dizem usar o BIM.
Em contrapartida, nenhuma empresa do segmento de infraestrutura para engenharia elétrica e telecomunicações assinalou o uso da tecnologia. Entre as empresas de infraestrutura como um todo, esse percentual é inferior a 4%.
Assim como na pesquisa anterior ganha destaque o percentual de assinalações que mencionam desconhecer se a empresa faz uso do BIM (21,7%).
As empresas indicaram que o uso do BIM ainda está muito concentrado em sua fase inicial (47,2%), ou seja, na análise de projetos, quando se faz a simulação de várias etapas da construção, permitindo a verificação de compatibilidade e a eliminação de conflitos (clash detection). Nas empresas de edificações, esse percentual atinge 66%. O uso da tecnologia para planejamento (gestão) da obra é reportado por 25,3% das empresas, enquanto 27,5% usam o BIM no orçamento da obra.
Se utiliza, em quais fases dos empreendimentos da empresa o BIM é utilizado
As empresas que não utilizam o BIM assinalaram como principal razão o desconhecimento da tecnologia (33%). A crise econômica, que deprimiu a demanda setorial, é apontada como a segunda principal causa do não uso da tecnologia, seguida pelo alto valor do investimento para implantação.
É importante ressaltar que a pesquisa não indagou sobre o grau de envolvimento das empresas com o BIM, ou seja, qual o percentual de empreendimentos com a tecnologia. Possivelmente, face às dificuldades mencionadas anteriormente, em muitas delas o envolvimento não atinge 100% dos empreendimentos, o que significa que o percentual de obras em andamento fazendo o uso do BIM deve ser inferior a 7,5%.
A baixa disseminação, associada à falta de demanda ou à crise econômica, é claramente conjuntural. Assim, esse é um motivo que tende a perder importância com a melhora da atividade setorial.
De fato, com a retomada irá crescer a preocupação com aspectos voltados à produtividade das empresas. Vale observar que, desde o início da Sondagem da Construção em julho de 2010, as empresas sempre apontaram a competição dentro do setor como uma das principais dificuldades de melhoria dos negócios. O BIM pode ser um diferencial importante para as empresas que já começaram a fazer uso da tecnologia.
Assim, o desconhecimento, reportado por 33% das empresas, levanta a necessidade de maiores investimentos da difusão da tecnologia.
Em maio último, a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) fez o lançamento formal da Estratégia Nacional de Disseminação do Building Information Modelling no Brasil, dando ao governo um papel de indutor deste processo de difusão, a exemplo das várias experiências bem-sucedidas em economias desenvolvidas.
A Estratégia engloba ações voltadas à estruturação do setor público para adoção da tecnologia, o estimulo à capacitação e a proposição de normas, protocolos e padrões para compras públicas. Prevê a exigência gradual do uso de BIM para obras realizadas com recursos públicos, seguindo três etapas: a primeira prevê a exigência da adoção do BIM em programas pilotos da área de infraestrutura; a segunda envolve a área de edificações, nos projetos com recursos públicos; e, por fim, a disseminação em todos os projetos da esfera pública federal em dez anos.
A expectativa é que a disseminação do uso do BIM nas obras privadas ocorra paralelamente, sendo influenciada e acelerada pelas ações do governo federal. Essas ações também criariam estímulos para que os agentes da cadeia produtiva (projetistas, construtoras, empreiteiras de serviços especializados, fabricantes de materiais e outros) invistam na tecnologia e na capacitação de suas equipes, contribuindo, desta forma, para desenvolver a oferta dos serviços tanto para o setor público como para o setor privado.
Com isso, o avanço na adoção dessa tecnologia inovadora pelo mercado brasileiro poderá ser acelerado, pois o aumento de escala da demanda estimula a concorrência, promove redução de custos de hardware e software, a ampliação da capacitação técnica dos profissionais e a disseminação entre os diferentes agentes da cadeia produtiva, que vão induzir os demais a avançar na aplicação do BIM nas diferentes fases de desenvolvimento dos empreendimentos de construção.
De todo modo, os números da sondagem mostram que o desafio para tornar o BIM mais disseminado, especialmente no segmento de infraestrutura, será grande. Mas o primeiro passo será iniciar a recuperação dos investimentos no setor.
Artigo publicado em 23/10/2018 em Blog do IBRE FGV.