No mar de termos do mundo dos negócios inovadores, as construtechs são aquelas startups voltadas para atender à construção civil. O segmento é tão vasto quanto a própria cadeia produtiva do setor, já que engloba a produção de tecnologia para dentro e para fora dos canteiros de obra. Elas atuam no pré-obra, no canteiro, no pós-obra e também no chamado real estate – termo em inglês que se refere ao ativo imobiliário – e nas pequenas obras dentro de casa (setor de home improvement).
Existem construtechs que funcionam mais como fintechs, oferecendo crédito para a cadeia imobiliária e de reformas, há aquelas que ajudam a digitalização dos projetos e outras que focam no consumidor final e em diminuir o caminho entre o cliente e o mundo das construtoras. O Habitability te ajuda a entender esse mercado!
Diferença entre construtech e proptech
O primeiro passo para compreender sobre as construtechs é entender o que elas não são. Isso porque, é normal a confusão no mercado com relação a outros tipos de startups que também atuam no “setor de moradia ”: as proptechs. As brasileiras QuintoAndar e Loft, dois unicórnios – que tem valor de mercado acima de US$ 1 bilhão – são exemplos claros de proptechs.
Como o nome já indica, as proptechs são focadas em serviços e produtos para o mercado de “property”, ou seja, o espaço imobiliário, tanto na venda, quanto na locação ou no crédito. Já as construtechs são mais voltadas para o momento da construção em si. Portanto, muitas vezes, as construtechs e as proptechs operam junto ao mesmo público consumidor, mas em momentos diferentes.
Expansão e espaço para inovação em construção civil
As estimativas mais recentes mostram que o mercado de construção civil mundial está avaliado em US$ 10,7 trilhões. Um total de US$ 5,7 trilhões desse valor são de países emergentes. Até 2030, o setor deve crescer para US$ 15,2 trilhões – com US$ 8,9 trilhões vindos dos “emergentes”. É o que indica o relatório da consultoria internacional Marsh, realizado em parceria com a Oxford Economics.
Entre 2020 e 2030, é a construção que vai liderar o crescimento da economia mundial, com média de crescimento de 4,4% ao ano. Em termos de comparação: os setores de serviços e a indústria devem crescer, respectivamente, 3,4% e 3,3% ao ano no mesmo período. A urbanização é o que impulsiona esse crescimento: a entrada de 2,5 bilhões de pessoas em cidades até 2050 exigirá novas infraestruturas e edificações.
É especialmente nesse ponto que as construtechs desempenham um importante papel: no ganho de produtividade para o setor, que ainda passa por gargalos. De acordo com a consultoria McKinsey, a produtividade do setor cresceu apenas 1%, entre 2000 e 2019. Além disso, é nesse espaço onde a experimentação para novos materiais construtivos acontece.
Construtechs no Brasil
O Brasil conta com 955 construtechs e proptechs, de acordo com mapa feito pela Terracotta Ventures. O número é quase 14% maior que o de 2021 – e mais que o triplo desses negócios comparado aos últimos dois anos, o que ressalta a procura dos empreendedores para aproveitarem as oportunidades do mercado.
Os investimentos também tiveram alta: aumento de 87% nos aportes em “early stage”, que somaram R$ 634 milhões. No total, foram 67 rodadas de aporte em construtechs e proptechs brasileiras em 2021, 11,6% a mais que em 2020. O setor de construção civil, no entanto, ainda representa 3% do total das startups brasileiras, segundo a Associação Brasileira de Startups (ABStartups).
Exemplos de construtechs brasileiras
Grande parte das construtechs brasileiras opera com foco no mercado B2B e tem parcerias com grandes companhias. Um exemplo é a brasileira Ambar, que criou um “novo sistema operacional” para as obras, contando com espaços digitais para elaboração de projetos, planejamento, compra de suprimentos e gestão da obra.
A digitalização do setor é também foco da Dataland, que usa dados e inteligência artificial para agilizar os estudos de viabilidade de incorporações. A partir das informações, a empresa consegue dimensionar o potencial construtivo e entender quais são os melhores lugares para comprar terrenos.
Companhias como a Facilitat estão voltadas à etapa pós-obra ao digitalizar os manuais de instruções dos imóveis e de gestão de manutenção dos prédios. Outras, como a Nanoprice, levam a experiência do e-commerce para a compra de mármore para obras. Já startups como a Tecverde e a Brasil ao Cubo buscam novos formatos de materiais para a obra, com foco em criar wood frames e módulos pré-fabricados
Desafios de construtechs no Brasil
As oportunidades são tão grandes quanto os desafios das construtechs crescerem no País. Levar a digitalização para um setor tão focado no mundo físico tem as suas complicações, que vão desde o treinamento das pessoas até o entendimento de altos executivos sobre os sistemas. O tempo menor de teste dos produtos, o tal do “teste e erro” das startups, é outro ponto que entra em conflito com o setor, que exige alta expertise e alocação de capital maior e mais assertivo.
Há também os entraves para que essas companhias cheguem no consumidor final, já que é preciso uma estrutura mais robusta para oferecer preços melhores. Uma forma de transpor essa barreira é o que o mercado brasileiro já tem feito: a união entre grandes construtoras e construtechs, seja por meio de processos de fusões e aquisições (M&A, na sigla em inglês), seja por aceleração de startups.
Fonte: Habitability