INTEGRAÇÃO DE PROJETOS BIM, ASSINATURA E VALIDAÇÃO DE PLANTAS DIGITALMENTE PROMOVE MELHORIA DE PRODUTIVIDADE EM 11%

A Casa Cave é um projeto totalmente diferenciado, com o objetivo de ser uma referência em design, tecnologia e sustentabilidade, provendo saúde, conforto, bem-estar e elevado padrão construtivo. Tais características impõem a necessidade de elaboração de projetos de diversas disciplinas técnicas de engenharia, as quais, pelo método tradicional, podem ocasionar erros e conflitos entre si. Muitos desses documentos ainda precisam ser aprovados pelos responsáveis por sua elaboração, contratante e, em muitos casos, por órgãos e concessionárias de serviços antes de sua distribuição à equipe de obra, o que requer impressão de plantas e coleta de assinatura. Além disso, alguns projetos são elaborados em paralelo à execução da obra. Essa grande quantidade de informação técnica gerada pelos projetistas precisa ser distribuída entre eles e a equipe da obra, o que torna muitas plantas técnicas obsoletas rapidamente. Portanto, o principal problema a ser resolvido é o processo de gestão da informação técnica, tanto na elaboração e coordenação de projetos, quanto na coleta de assinaturas de partes envolvidas e na distribuição e validação das plantas técnicas que são usadas na obra.

A solução para a problemática do processo de gestão da informação foi desenvolvida a partir do mapeamento do fluxo, com identificação de gargalos que limitam a produtividade, reduzem a qualidade e geram desperdícios. Estabeleceu-se como premissa o uso de soluções digitais que juntas interagiriam com o processo de gestão. Assim, optamos pelo desenvolvimento de projetos de arquitetura e engenharia através da metodologia BIM, baseado em processos, pessoas e tecnologia. Para tanto, elaboramos um plano de execução BIM com processos e políticas; capacitamos a equipe técnica interna e contratamos projetistas externos com experiência em BIM; renovamos o parque tecnológico dos setores envolvidos, além de selecionar softwares da Autodesk para desenvolvimento de projetos, comunicação entre os envolvidos e avaliação de interferências no modelo virtual. Buscamos também plataformas de assinatura digital que oferecem facilidade, praticidade, segurança e flexibilidade, selecionando o sistema Docusign. Por fim, para controlar e distribuir documentos na obra, selecionamos a plataforma Construcode, que disponibiliza ainda validação por dispositivo móvel de plantas impressas através de QR Code.

Os projetos de arquitetura e engenharia da Casa Cave foram elaborados no âmbito da metodologia BIM, com aumento de qualidade através da coordenação das disciplinas e checagem de interferências entre elementos construtivos. Aqueles projetos que exigem aprovação junto à órgãos públicos e concessionárias de serviços foram assinados digitalmente pelos profissionais responsáveis e encaminhados aos destinatários. A comunicação das informações se tornou mais assertiva e fluída com a disponibilização de modelo virtual e de plantas no canteiro de obra por meio de dispositivos móveis que acessam diretório central na nuvem. Além disso, foi inserido QR Code nas plantas para, quando eventualmente forem impressas, possam ser lidos através de aplicativo de celular ou tablet para validação da versão e não permitir o uso de documento obsoleto na execução da obra. Para medir a produtividade, foi utilizado como metodologia a análise de relatórios de não conformidades do projeto BIM e avaliação de tempo e custo entre o processo de assinatura digital e o tradicional, bem como o tempo para distribuir e validar documentos técnicos no canteiro de obra.

Através da elaboração de projetos em metodologia BIM, distribuídos no canteiro de obra em plataforma web-based por aplicativo em dispositivo móvel, sem necessidade de imprimir plantas ou ainda realizar a checagem do documento impresso quanto a sua atualização, a produtividade melhorou em 11% em comparação com processo tradicional. Isso proporcionou ganho de 986h da equipe (123 dias de trabalho de um colaborador) . Além disso, reduziu-se em 15% o tempo de montagem de pasta de documentos para licenciamento e legalização com as assinaturas digitais

Estudos indicam que o uso de metodologia BIM para elaboração e coordenação de projetos de arquitetura e engenharia pode economizar de 0,5 a 1% do custo total de obra, já que se reduz mão de obra parada ou ociosa, enquanto se realizam revisões nos documentos técnicos, e evita-se compra de materiais incorretos ou em quantidades divergentes. Dessa forma, o uso da metodologia BIM na construção da Casa Cave gerou economia de R$ 106 mil, correspondente a redução de 0,8% do custo total da obra. A distribuição de plantas técnicas por meio digital no canteiro de obra reduziu em 82% o número de plantas impressas. Consequentemente, atingiu-se economia de R$17 mil, mesmo com a inclusão do custo da aquisição de 6 tablets para uso no canteiro de obra. Já as diligências de licenciamento de projetos em órgãos públicos com uso de documentos assinados digitalmente proporcionaram economia de R$ 5 mil, ao evitar impressões, autenticações cartoriais e coleta de assinaturas físicas dos responsáveis.

Devido à complexidade do empreendimento, não houve ganho de prazo na fase de projeto com a metodologia BIM, embora se tenha atingido mais qualidade dos documentos técnicos. Já a distribuição de plantas no canteiro de obra foi mais eficaz e rápida através do uso de dispositivos móveis, com economia estimada de 15 min por planta impressa (trâmite de plotagem, dobra, conferência e distribuição ao destinatário). A etapa de licenciamento nos órgãos competentes teve redução de prazo para montagem dos kits de documentos de cerca de 1 semana por processo ao usar documentação e assinatura digital.

O processo de gestão da informação impactou todas as etapas da construção da Casa Cave, desde a elaboração dos projetos, passando pelo licenciamento nos órgãos competentes e durante a execução da obra. Contudo, não houve redução do prazo de obra, embora tenha contribuído para maximizar algumas etapas da construção, bem como se tenha aumentado a qualidade dos projetos desenvolvidos através da metodologia BIM, com redução dos problemas durante a execução da obra por erros de projeto, além de ter dinamizado a distribuição e validação de plantas técnicas no canteiro de obras.

O impacto principal observado com o processo de gestão da informação foi o entendimento de todas as partes interessadas no projeto da construção da Casa Cave, com facilidade e eficácia no acesso e compartilhamento dos documentos técnicos, estabelecendo a cultura de digitalização do canteiro de obra. Reduziu-se também o trabalho de algumas atividades burocráticas como coleta de assinatura em documentos, ou distribuição física de plantas no canteiro de obra, oferecendo mais tempo para a equipe se dedicar a outras tarefas essenciais.

Houve benefícios relacionados à sustentabilidade ao tratar ainda na fase de projeto de estratégias ambientais, muitas delas simuladas através de softwares no âmbito da metodologia BIM. De tal forma, quando da distribuição digital das plantas técnicas no canteiro de obra, há diminuição dos resíduos sólidos gerados em 180 Kg ao não imprimir esses documentos. O processo BIM favoreceu reuniões virtuais de projeto, evitando deslocamentos da equipe de projetistas e de execução da obra com reflexo na redução de 4.346Kg de CO2 equivalente de emissões de gases de efeito estufa.

Com a metodologia BIM houve aumento da qualidade dos projetos de construção com redução 33% da quantidade de interferências de projeto. Favoreceu ainda a comunicação das partes envolvidas, principalmente com facilidade na visualização por dispositivos móveis dos modelos virtuais da construção e das plantas técnicas, com redução de 100% das plantas obsoletas que foram impressas pelo uso do sistema de validação por QR Code, refletindo a qualidade da execução da obra. A organização da documentação digital através de uma plataforma Web-based com etiquetas, pastas e outras formas de classificação favorecem o sistema de gestão da qualidade amparado na certificação ISO 9001 da Dimensional.

O processo de gestão da informação desenvolvido exige que todas as partes envolvidas no empreendimento estejam engajadas. Para tanto, é necessário ter capacitação adequada da equipe de acordo com a função que exercerá no fluxo, além de disponibilização de equipamentos, sejam computadores com desempenho para o desenvolvimento da coordenação dos projetos, sejam dispositivos móveis para a equipe de execução da obra. Além disso, é preciso realizar a contratação das licenças de softwares e sistemas que são usados no processo.

Como lições aprendidas e melhorias para as próximas obras, ressalta-se o fomento de maior engajamento de todos os profissionais ao processo de gestão da informação como treinamentos constantes. Deve-se estabelecer a meta de eliminar 100% das plantas impressas no canteiro de obras e ter o oferecimento de mais dispositivos móveis para a equipe de obra.