Por Fernando Veloso, Silvia Matos e Paulo Peruchetti

A recente divulgação, por parte do IBGE, das Contas Nacionais Trimestrais e dos dados da Pnad Contínua, permitiu o cálculo do indicador trimestral de produtividade do trabalho do IBRE/FGV. Os indicadores do terceiro trimestre de 2019 apontaram para uma lenta recuperação do nível de atividade econômica, com crescimento do valor adicionado de apenas 1% em relação ao terceiro trimestre do ano passado, e alta de 0,6% em relação ao segundo trimestre de 2019. Por outro lado, as horas trabalhadas cresceram 1,7%, quando comparado com o terceiro trimestre de 2018.

Uma das formas de se analisar a dinâmica da produtividade é através do crescimento interanual da série. Neste caso, analisa-se a taxa de crescimento de um determinado trimestre em relação ao mesmo período do ano anterior.

A produtividade agregada apresentou queda de 0,7% no terceiro trimestre de 2019, em comparação com o terceiro trimestre de 2018. Este resultado, embora apresente uma melhora em relação ao observado no segundo trimestre de 2019 (queda de 1,6%), que havia sido o pior desde o primeiro trimestre de 2016, ainda é muito negativo, consolidando o quadro de redução da produtividade em 2019.

A análise setorial nos permite verificar que o processo de deterioração observado no desempenho da produtividade ao longo dos últimos anos se espalhou por vários setores da economia.

No terceiro trimestre de 2019, houve crescimento expressivo da produtividade por hora trabalhada na agropecuária, enquanto que na indústria e serviços a produtividade continuou a cair. Na agropecuária, por exemplo, entre o segundo e o terceiro trimestre de 2019, a produtividade por hora trabalhada passou de queda de 1,5% para alta de 4,6%.

A redução de 0,7% na produtividade da indústria fez com que o setor acumulasse a terceira retração consecutiva em 2019. Este desempenho negativo observado nos três primeiros trimestres de 2019 interrompeu uma sequência de doze trimestres consecutivos de elevação da produtividade da indústria.

A análise desagregada da indústria ajuda a entender melhor a dinâmica da produtividade no setor.

Após o pequeno aumento de 0,2% no segundo trimestre de 2019, a produtividade da indústria de transformação apresentou uma forte queda de 2,3% no terceiro trimestre deste ano. Já na construção, houve um crescimento de 3,7% no terceiro trimestre de 2019, bem superior ao aumento de 1,7% observado no segundo trimestre deste ano, mostrando uma forte recuperação na produtividade deste setor. Este desempenho da construção impediu que o resultado agregado da indústria fosse ainda pior.

No setor de serviços, a produtividade por hora trabalhada apresentou queda de 1,3% no terceiro trimestre de 2019, em relação ao mesmo trimestre do ano anterior. Analisando seu desempenho desde 2014, podemos observar que, com este resultado negativo do terceiro trimestre, o setor de serviços acumula o vigésimo segundo trimestre consecutivo de queda da produtividade por hora trabalhada.

A análise desagregada do setor de serviços ajuda a entender os motivos pelos quais o crescimento da produtividade deste setor ficou em território negativo nos últimos anos.

No terceiro trimestre de 2019, a produtividade do comércio cresceu 1,7%, quando comparada com o mesmo trimestre do ano anterior. Este resultado foi superior ao observado no segundo trimestre de 2019, quando a produtividade deste setor havia crescido 1%.

Transporte e outros serviços, no entanto, estão apresentando um desempenho bastante negativo, intensificando, assim, a piora da produtividade do setor de serviços. Com a queda de 6,8% no terceiro trimestre de 2019, a produtividade do setor de transporte já acumula seu quarto trimestre consecutivo de queda.

No setor de outros serviços, a situação é ainda mais crítica. Com exceção de um pequeno aumento no terceiro trimestre de 2016, o setor tem apresentado taxas negativas de crescimento desde o segundo trimestre de 2014. No terceiro trimestre de 2019, a queda no setor de outros serviços foi de 2,7%, um pouco menor que a observada no segundo trimestre de 2019 (-3%), mas ainda assim muito negativa.

Em resumo, a piora do desempenho da produtividade agregada em 2019 está relacionada principalmente ao setor de serviços, que concentra 71% das horas trabalhadas no país. Dentro do setor de serviços, os setores de transporte e outros serviços, que correspondem a 52% das horas do setor, têm sido os principais responsáveis pela queda da produtividade.

Fonte: IBRE/FGV – Observatório da Produtividade

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