A alta carga tributária, a falta de crédito, os altos juros praticados pela baixa concorrência bancária, a precária infraestrutura e logística – marcada pela péssima qualidade das estradas -, as barreiras comerciais – altas tarifas e normas de conteúdo nacional -, barreiras ao empreendedorismo – altos custos administrativos e morosidade na emissão de licenças – e a baixa eficácia da administração pública são os principais fatores para a baixa produtividade brasileira.

Além disso, o fato de a indústria da construção ser um dos setores menos digitais do mundo, conforme o Índice de Digitalização do MGI, impacta negativamente nos ganhos em produtividade.

Essa é a avaliação de Jayron Barros Araújo, CEO da Mentor Construção – plataforma baseada na gestão por avaliação de desempenho, com uso de indicadores de resultados a nível operacional, onde todos os colaboradores têm suas performances de produtividade monitoradas através dos apontamentos diários de produção inseridos no sistema. Por meio destes dados, o algoritmo da plataforma é capaz de mensurar o desempenho de cada colaborador e indicar, através de um completo Dashboard, os colaboradores produtivos e improdutivos.

A plataforma Mentor Construção foi utilizada durante a construção do empreendimento Hospital da Ilha, localizado em São Luís (MA). O hospital é composto por 390 leitos de Urgência e Emergência, dividido em 7 blocos e totalizando uma área construída de 30.330,50m². Para construir um empreendimento tão grande, foi necessária a contratação de uma quantidade expressiva de operários, chegando a um pico máximo de 335 colaboradores, tornando um grande desafio o gerenciamento da produtividade de toda essa mão de obra.

A Mentor Construção apontou que, em média, 41,50% dos colaboradores estavam abaixo da produtividade mínima planejada, e por conta disso geravam uma despesa extra nas folhas de pagamento de 30,95%. Com a utilização da plataforma, houve uma evolução gradativa na performance geral da mão de obra ao longo do tempo, e o número de colaboradores improdutivos reduziu de 41,50% para 14,33% em seis meses.

Com a melhoria do desempenho da mão de obra, o Consórcio HI, responsável pela construção do Hospital da Ilha, passou a produzir mais com um menor número de operários. Foi verificada uma redução média de 26% nos custos atrelados à mão de obra, como folhas de pagamento, transporte, alimentação e EPIs.

Jayron explica que com a utilização da plataforma, o Gestor é capaz de identificar os desvios da produção de forma automatizada, possibilitando maior agilidade e assertividade na tomada de decisões que contribuíram para a melhoria da produtividade, o cumprimento do planejamento da obra e a redução dos custos de mão de obra.

Para o CEO da Mentor Construção, não há momento melhor para o desenvolvimento de iniciativas como a do prêmio de Produtividade, idealizado pela Abrainc. “Difunde novas ideias e soluções que geram ganho de produtividade nos canteiros de obras. Cria um ambiente disruptivo na cadeia da indústria da construção, incentivando empresas e profissionais do setor a quebrarem barreiras com as novas soluções que se apresentam no mercado”, afirma Jayron.

Confira abaixo a íntegra da entrevista com Jayron Barros Araújo, CEO da plataforma Mentor Construção, que concorre ao prêmio de Produtividade com o case Hospital da Ilha:

Pergunta: Com o propósito de unir entidades em torno de objetivos comuns, a Abrainc criou o movimento Do Mesmo Lado – grupo que atua para pensar soluções que propiciem um ambiente de negócios mais favorável e mostre ao poder público e à sociedade as demandas urgentes do mercado brasileiro para superar a crise econômica, aumentar a competitividade, gerar riqueza e emprego. O portal https://produtividadedomesmolado.com.br/ foi criado para reunir as melhores práticas do canteiro de obras e fomentar o crescimento da produtividade da construção civil no país. Como você vê essa iniciativa? Qual a importância de compilar em um mesmo local práticas inovadoras e de sucesso da longa cadeia da construção civil?

Resposta: Vários setores da indústria brasileira e do mundo avançaram e continuam avançando no aprimoramento da produtividade – produzindo mais com um menor custo. Mas na indústria da construção, a baixa produtividade ainda é um problema constante. Nos últimos 20 anos, a produtividade do setor da construção brasileira cresceu apenas 1%, e ainda foi agravada pela crise que levou ao fechamento de várias empresas. Mas, felizmente, a nossa economia começa a dar sinais de recuperação, estamos aos poucos voltando a enxergar aquela luzinha no fim do túnel. E não vejo momento melhor do que este para o desenvolvimento de iniciativas como esta da Abrainc, que tem como objetivo difundir novas ideias e soluções que geram ganho de produtividade nos canteiros de obras, criando um ambiente disruptivo na cadeia da Indústria da Construção, incentivando empresas e profissionais do setor a quebrarem barreiras com as novas soluções que se apresentam no mercado.

P: Relatório elaborado pelo Fórum Econômico Mundial aponta que, em um ranking global de competitividade que abrange 141 países, o Brasil ocupa a 71ª posição. Segundo o levantamento, o país encontra-se em um “processo lento de recuperação da sua competitividade”. Diversas análises apontam que o Brasil tem todos os recursos para virar uma grande potência mundial. Quais ações poderiam acelerar o processo de competitividade no Brasil e consequentemente elevar nossa posição nesse ranking?

R: Sem dúvidas a alta carga tributária brasileira é um dos principais fatores que influenciam e impedem o aumento da competividade do país frente a economia mundial. Portanto, é de extrema urgência a aprovação de uma reforma tributária que permita taxas menores, diminua a complexidade e reduza as diferenças discrepantes de tributação que temos, se comparado a outras economias emergentes e de países de primeiro mundo. Contudo, além da reforma tributária, o Brasil precisa enfrentar outras problemáticas que afligem as empresas, como a falta de crédito e os altos juros praticados, que podem ser melhorados com a ampliação do mercado de capitais, aumentando a concorrência entre os bancos.

Outra grande barreira é a precária infraestrutura e logística, que é marcada pela péssima qualidade das estradas, e que poderiam ser resolvidas com a intervenção do setor privado, através de concessões, onde o Estado deixaria de ser operador e assumiria apenas o papel de regulação, inadmitindo a interferência de governos que atuam com interesses individuais.

A baixa produtividade do trabalhador brasileiro também se apresenta como um desafio a ser superado, pois independente da oferta de profissionais disponíveis a um baixo custo, o trabalhador brasileiro produz menos riqueza por hora trabalhada do que os de outros países mais bem colocados no ranking de competividade global. E o que vemos é que há um deslocamento entre o que se aprende nas escolas/faculdades, e o que de fato é útil no mercado de trabalho. Portanto, há necessidade de se repensar as políticas públicas adotadas para educação, pois é preciso bem mais do que simplesmente proporcionar o acesso ao ensino, é preciso saber gerar habilidades produtividades nas pessoas.

P: O secretário de Produtividade e Competitividade do Ministério da Economia, Carlos da Costa, afirmou em evento organizado pelo jornal Correio Braziliense, em dezembro de 2018 – pouco antes de assumir o cargo – que o Brasil poderá crescer 5% ao ano com aumento da produtividade e que o Governo Federal tem trabalhado nessa questão. Quais são os principais gargalos que impedem essa expansão da produtividade no Brasil e consequente crescimento do PIB?

R: A produtividade é o principal motor de crescimento de um país, e isso exige investimentos significativamente maiores, bem com uma agenda ampla de reformas econômicas. E para expandir a produtividade, o Brasil tem que resolver problemas que abrangem, principalmente, barreiras comerciais (altas tarifas e normas de conteúdo nacional), barreiras ao empreendedorismo (altos custos administrativos e morosidade na emissão de licenças), barreiras nos mercados financeiros nacional (restrições de acesso ao crédito de longo prazo) e a baixa eficácia da administração pública (estado inchado). Mas apesar da desordem política dos últimos anos, reformas significativas já foram aprovadas. Continuar essa onda reformista será bastante compensador para o Brasil, que tende a alcançar, no longo prazo, um crescimento significativo do seu PIB.

P: A Construção Civil é um dos vários setores da economia que pode se beneficiar com a Inteligência Artificial. De acordo com uma pesquisa da McKinsey, as empresas que investem na tecnologia têm 50% mais chances de lucrar, desde que já utilize programas para coletar e processar dados. As principais aplicações conhecidas atualmente para a construção civil são:

  • Design de projetos: gerar designs a partir de objetivos e variáveis, com menos interação humana, buscando otimizar o layout de projetos de engenharia;
  • Experiência do cliente: proporcionar um melhor atendimento, mais rápido e automatizado;
  • Manutenção preventiva: evitar problemas antes que eles aconteçam;
  • Análise preditiva: analisar dados para fazer projeções para situações futuras, com base em comportamentos anteriores;
  • Segurança do trabalho: antever problemas e evitar acidentes durante a obra;
  • Robotização do canteiro: permitir que as pessoas se concentrem em trabalhos mais intelectuais, menos operacionais.

De acordo com sua experiência, as empresas que compõem a cadeia da construção civil no Brasil utilizam de forma satisfatória nas obras os recursos que a inteligência artificial fornece? É possível ampliar o uso da tecnologia na construção?

R: Diversos setores da indústria foram capazes de transformarem-se e evoluírem em termos de produtividade, sobre uma forte influência da digitalização e automação extensiva. E quando comparamos este cenário com a indústria da construção, é possível perceber que, neste setor, a evolução está acontecendo em um ritmo infinitamente inferior. Prova disso é o fato de a construção ser um dos setores menos digitais do mundo, conforme o Índice de Digitalização do MGI. E no Brasil, este cenário é bem evidente! É inegável que os recursos que a tecnologia e a inteligência artificial são capazes de fornecer ainda são utilizados de forma acanhada por aqui. No entanto, observamos nos últimos anos um movimento de mudança neste panorama, com um grande envolvimento de startups e altos investimentos focados em inovação no segmento. Movimento este liderado pelas construtechs, com o desenvolvimento de soluções que automatizam as atividades operacionais, compartilham informações de maneira integrada e possibilitam a digitalização de processos. Estando inerido nestas iniciativas com a Mentor Construção, posso afirmar com propriedade que a tendência é que o uso da tecnologia se amplie cada vez mais na indústria da construção, de tal forma que se estabeleça uma relação de dependência irreversível e cada vez maior.

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