A relação entre construção civil e meio ambiente é delicada, porém poderosa. Afinal, esse é um setor com influência direta no ambiente. Ele cria e recria espaços, promove a locomoção das pessoas, aumenta a capacidade delas interagirem com o meio e interfere em elementos, paisagens e na própria identidade e dinâmica dos espaços, tendo um papel fundamental na geração de emprego, renda e desenvolvimento social. Contudo, toda essa ação demanda o consumo de recursos naturais.

Para equilibrar essa relação, em atendimento à urgente necessidade de preservar o planeta, está a tecnologia. A partir de técnicas como construção off-site, ou modular, bem como o uso de dados para planejamento e de novos materiais, o setor da construção civil ganha eficiência e, consequentemente, se torna mais sustentável, minimizando impactos negativos e maximizando os impactos positivos.

Impactos ambientais da construção civil

No mundo, o setor consome de 20% a 50% dos recursos naturais, segundo artigo publicado no Journal Energies, do MDPI, sendo responsável direta e indiretamente por 39% das emissões de Gases Efeito Estufa, como indica a Agência Internacional de Energia (IEA).

No Brasil, uma obra gera em média 120 quilos de entulho por metro quadrado, fazendo com que a construção civil seja responsável pela geração de 51% a 70% dos resíduos sólidos urbanos.

Dados do Conselho Internacional de Construção apontam que mais de um terço dos recursos naturais extraídos no País vão para a indústria de construção. E quase metade da energia gerada serve para abastecer obras.

Para mudar esse cenário, os edifícios verdes e os modelos construtivos sustentáveis são a resposta. O Brasil, por exemplo, é o quinto no ranking mundial de construções sustentáveis.

Se sua magnitude traz desafios para a relação com o meu ambiente, ela também pode contribuir para a transformação que o mundo precisa: pelo seu tamanho, o setor de construção civil pode ter impacto direto na descarbonização do planeta.

Construção civil e meio ambiente, uma relação em evolução

A construção de novos tipos de edificações, como as construções modulares e as construções com impressão 3D, que se valem de materiais reutilizáveis e menos matéria-prima, deixou de ser uma tendência e se tornou um caminho para um maior equilíbrio entre construção e meio ambiente.

As construções off site, que divide as partes dos edifícios em módulos que são construídos em uma indústria para serem apenas montados no lugar da obra, oferecem uma saída sustentável e eficiente para o mercado. A padronização trazida por esse tipo de modelo pode também servir para que as obras façam melhor gestão do tempo e do uso de materiais, o que, no final das contas, também diminui o impacto ambiental.

As contribuições podem começar já na fase de planejamento e projeto, a partir do BIM, ou Modelagem de Informações da Construção, que possibilita o uso de modelos virtuais, ou digital twins, na análise de projetos estruturais. A tecnologia ajuda a ter um cálculo mais preciso de tempo e de execução da obra, evitando desperdícios que são negativos para a obra e para o meio ambiente.

Busca por novos materiais (e por reutilizar os existentes)

Essa jornada rumo à sustentabilidade tem um fator ainda mais transformador: a busca por novas matérias-primas, já que cerca de 11% do volume das emissões de gás carbônico da construção civil podem ser atribuídos unicamente à cadeia do aço e do cimento.

Novos não significa, necessariamente, materiais criados do zero, mas tornar elementos já existentes em materiais economicamente viáveis e ambientalmente corretos. A Suinstanable Living Association, por exemplo, elenca os três materiais mais “verdes” já existentes, que podem ser usados em construções: bambu, aço reciclado e até pedra. Outros materiais, como fibra de vidro e lã de ovelha, também foram citados. O uso do barro já aparece na pauta das construções sustentáveis e até o uso de materiais biodegradáveis.

Empresas do setor de construção, por sua vez, também estão usando materiais semelhantes – juntamente com tecnologia inteligente – como atualizações ecológicas para edifícios mais antigos. Um exemplo é o uso de termostatos inteligentes para modificar automaticamente as configurações de temperatura, o que economiza energia, e painéis solares como fontes de energia limpa e renovável. No Brasil, a Universidade de São Paulo está construindo um prédio com climatização que se baseia no solo.

Novos materiais como o cimento zero carbono e o aço verde, feito a partir de energia, já estão sendo testados em construções pelo mundo. Enquanto os novos materiais ainda estão em fase de testes, o que a indústria faz  é reduzir o consumo de insumos que já existem.

Meio ambiente e pessoas

Em última instância, não é possível pensar na construção civil sem pensar no seu impacto social. E é nesse ponto que, cada vez mais, o setor ganha em sustentabilidade. A ideia é que, uma vez pronta, a construção seja igualmente sustentável em seu uso.

Formas de compartilhar energia solar e sistemas para reaproveitamento de água de reuso, por exemplo, ajudam os moradores a reduzirem suas pegadas de carbono, assim como o design pode contribuir para a reciclagem de resíduos.

O poder público também tem seu papel. Em algumas cidades brasileiras, existem incentivos para que obras promovam ações sustentáveis em seus moradores. O chamado IPTU Verde determina descontos que vão de 5% a 20% para as construções ecoeficientes.

Fonte: Habitability

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