P: O portal de Produtividade foi criado pelo movimento das Entidades Do Mesmo Lado com o objetivo de reunir as melhores práticas do canteiro de obras e fomentar o crescimento da produtividade da construção civil no país. E o Prêmio Produtividade Do Mesmo Lado é uma iniciativa deste grupo com o propósito de reconhecer e promover as soluções voltadas para o desenvolvimento da inovação no setor. Como o senhor enxerga estas iniciativas?

Estas iniciativas são de extrema importância para a transformação da construção civil convencional em industrializada. O desenvolvimento de novas tecnologias de gestão e materiais é o grande objetivo. Lembrando que a integração entre os diversos materiais irá compor a construção moderna cada um sendo utilizado onde há o melhor desempenho. O prêmio Produtividade vem enaltecer a solução mais inovadora e sustentável.

P: O senhor acredita que o Prêmio Produtividade Do Mesmo Lado pode contribuir, além da promoção das melhores práticas, na formação de parcerias e idealização de novos projetos, técnicas e soluções para o setor da construção civil?

Como já colocado, a integração das tecnologias de gestão e materiais na construção tem que ser o foco para haver passo importante na direção da construção industrializada e sustentável. O prêmio é uma ferramenta de fomento de novas parcerias, novos projetos e definição de novas técnicas e soluções para uma construção moderna. Transformação do canteiro em uma linha de montagem com ganhos de custo, transporte e tempo.

P: O crescimento de 1,2% da economia no primeiro trimestre de 2021 coloca o Brasil na 13ª posição no Austin Rating PIB Ranking, um levantamento com as maiores economias do mundo.  E o país se classificou na 62ª posição em 2020 no Índice Global de Inovação 2020, quatro posições acima da que obteve em 2019. As análises acima apontam que há cenário e condições para o Brasil tornar-se uma grande potência mundial. Quais ações poderiam contribuir ao processo de aumento da competitividade em relação a outros países?

Através da busca incessante da industrialização da construção civil, poderíamos pular várias posições nos rankings. Entretanto, o sistema tributário onera a obra industrializada em relação à convencional. Temos que buscar a isonomia tributária com a construção convencional. Tendo o mesmo tratamento, as vantagens da construção industrializada, principalmente em aço, serão reconhecidas como a melhor opção para o crescimento da construção civil, de forma limpa e sustentável.

P: Como as normas de desempenho e práticas recomendadas podem propiciar condições produtivas ao desenvolvimento da produtividade na cadeia da construção civil?

A ABNT NBR 15.575 agrega em seu conteúdo extensa relação de normas já existentes, das mais diversas disciplinas e relacionadas ao tema, e estabelece ampla e solidária junção de incumbências entre os intervenientes do processo.

A ABNT publicou, em 29.09.2021, a norma ABNT NBR 15575-1:2021 – Edificações habitacionais – Desempenho – Parte 1: Requisitos gerais, que revisa a norma ABNT NBR 15575-1:2013. Foi também publicada a norma ABNT NBR 15575-3:2021 – Edificações habitacionais – Desempenho – Parte 3: Requisitos para os sistemas de pisos, que revisa a norma ABNT NBR 15575-3:2013

A partir de mudança cultural na construção habitacional, a revisão do conjunto normativo acontece e traz novidades em ambiente de crescimento e amadurecimento do mercado.  O impacto será o avanço na qualidade e o aprimoramento de procedimentos de fornecedores, projetistas, construtoras e usuários.  Desde o início é necessária visão holística para as decisões de todo o processo, da conceituação e vida útil às especificações e compatibilizações com as demais disciplinas de projetos de arquitetura e da engenharia, implicando em ganho de produtividade. Há maior grau de compromisso e da interdependência entre todos os envolvidos em benefício do usuário.

A Norma de Desempenho contém preocupações com a expectativa de vida útil, o desempenho, a eficiência, a sustentabilidade e a manutenção dessas edificações, reforçando, dessa forma, a qualidade e durabilidade da edificação entregue aos usuários.

Dra. Cátia MacCord Simões Coelho, consultora da ABCEM

P: O setor da construção civil sofreu com o aumento do preço dos insumos. Como a ABCEM pode atuar para que esta realidade não contribua com as paralisações das obras?

A ABCEM não tem medido esforços junto às entidades, fornecedores e governo na luta para a manutenção do abastecimento de matéria-prima.

P: As estruturas metálicas podem ser adaptadas para vários acabamentos. Quais são os outros aspectos a serem considerados na escolha dos sistemas para o melhor desempenho e sustentabilidade nos projetos?

A estrutura metálica possui versatilidade ao se adaptar aos mais diversos projetos. Além disso, a necessidade de tecnologias construtivas que garantam sustentabilidade; geração de resíduos em baixa escala e redução no desperdício de materiais, colocam a construção metálica como ótima opção. O aço se sobressai em fatores básicos, tais como desafios técnicos, dimensional, ou seja, grandes vãos, com estrutura mais esbelta do que em outros processos construtivos. Outro fator se dá quando são necessárias obras mais rápidas. Essas duas características na obra, não importa o segmento, a construção metálica é solução fantástica. O terceiro ponto seria em obras LEED (Leadership in Energy and Environmental Design), certificado de qualidade emitido pela entidade americana U.S. Green Building Council (USGBC) a projetos de engenharia de diferentes categorias que cumprem uma série de pré-requisitos em aspetos econômicos, ambientais e sociais durante as fases de elaboração e execução da obra, e, em especial, em como será a funcionalidade após a construção concluída, e como o aço é totalmente reciclável, pontua mais.

Já quanto às questões arquitetônicas, também. Muitos arquitetos trabalham muito bem com o aço, dando soluções interessantes aos projetos.

No setor residencial, o aço está em consumo crescente. Temos visto construção metálica em residências cada vez mais frequentes, em especial nas construções de maior porte, onde existem projetos mais arrojados, com vãos maiores e linhas mais modernas. E também com o uso do Light Steel Frame.

O aço é infinitamente reciclável, podendo, esgotada a vida útil da edificação, retornar aos fornos sob a forma de sucata e se tornar um novo aço, sem perda de qualidade. No processo de produção do aço são gerados coprodutos que se tornam  matéria-prima para a produção de cimento, indústria cerâmica, entre outros. A durabilidade do aço também coopera com o meio ambiente. Com revestimentos metálicos, pinturas ou a combinação dos dois, a durabilidade do aço aumenta, ficando “blindado” contra os efeitos das intempéries naturais e prolonga sua vida útil. Dessa forma, evita o uso excessivo de produtos que comumente agridem o meio ambiente.

Outros fatores que comprovam que o aço é a melhor opção sustentável na construção civil, estão no seu processo produtivo, pois o minério de ferro, material originário do aço, existe em abundância no planeta. E, esse processo resulta em um material homogêneo, não tendo emissão de nenhum tipo de substância agressiva ao ambiente na sua produção. Já as empresas que constroem em aço, ainda podem obter o Selo Verde, uma certificação, que atesta as técnicas, materiais e uso consciente de recursos naturais, que promovem uma construção sustentável.

P: O light steel frame é um sistema que gera elementos com baixo peso, e isto se reflete nas construções. Já são vistos projetos com a inserção deste processo. Como desmistificar para o setor que o LSF e a construção a seco são sistema simples e que podem auxiliar para menos gastos nos empreendimentos?

A desmistificação é na prática e virá com o tempo. Os usuários constatarão que podem construir de forma muito mais racional e com muito menos impacto ao meio ambiente, assim como aconteceu em países como Chile, Canadá, Austrália e Japão, entre outros, cujo sistema responde por aproximadamente 90% das construções residenciais e comerciais de pequeno porte.

A boa notícia é que esse tempo já chegou. Podemos perceber isso com o sucesso da construção a seco, com o crescimento impressionante apresentado nos números estatísticos dos estudos patrocinados pela ABCEM em relação ao LSF.

A verdade é que isso não é novidade, o fato é que estamos atrasados em relação a outros países e claramente parece que agora finalmente acordamos e estamos tirando o atraso. Isso é muito positivo para quem participa desse processo e para a economia do país que colhe os frutos desse desenvolvimento.

Fábio Luiz de Gerone, vice-presidente de Light Steel Frame da ABCEM

P: A ABCEM oferece cursos de capacitação para o desenvolvimento do mercado da construção metálica no Brasil. O senhor acredita que o setor está pronto para o aprofundar o conhecimento de técnicas que podem ser parte do aumento da produtividade?

A ABCEM há 47 anos está trabalhando a favor da construção industrializada sustentável em aço no Brasil, para estruturas industriais, residenciais, telhas, steel frame, steel deck, infraestrutura rodoviária (defensas, pórticos, sinalização), energia (torres de transmissão, subestações, eólico, fotovoltaico). Atualmente, o ambiente está diferente. O mercado clama por produtividade, modernidade, sustentabilidade, aumentando a oportunidade de criação no projeto. As estruturas em aço, mistas e hibridas permitem tudo isso. Hoje, já temos edifícios residenciais utilizando estruturas metálicas e conversando com todos os tipos de soluções modernas e sustentáveis na sua construção. O nosso objetivo é transformar o canteiro de obra numa linha de montagem sustentável. É o estado da arte da Construção Civil. Diante disso, a ABCEM realiza cursos de capacitação em diversas áreas da construção industrializada e também é parceira de instituições, como o Mackenzie, que são de extrema importância na capacitação de arquitetos.

Temos todos que buscar pela excelência na Construção Civil que é a industrialização, utilizando todos os materiais modernos e sustentáveis disponíveis no mercado.

P: Para finalizar gostaria que o senhor deixasse uma mensagem para o setor da Construção Civil sobre o quanto é importante continuarmos avançando em inovações e no aumento da produtividade.

A busca pela excelência no atendimento passa pela industrialização da Construção Civil, com o uso e a integração de materiais de alto desempenho oriundos pelo surgimento de inovações e a busca do aumento da produtividade com gestão cada vez mais atualizada e moderna. Como exemplo, podemos citar a Construção Civil em Aço nos países desenvolvidos, que tem participação muito mais alta que no Brasil.

O fomento em inovações e processos de gestão é fundamental para a mudança de patamar do setor da Construção Civil. Temos que buscar os níveis de industrialização aplicados nos países do primeiro mundo.

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