O setor da construção civil vem adotando uma série de medidas para reduzir o volume de suas emissões de gases de efeito estufa (GEE) e usa a tecnologia para alinhar seus projetos a padrões de maior eficiência energética. Mas não só! As construtoras brasileiras começam agora a utilizar instrumentos para potencializar a descarbonização já na fase da obra, quando é gerada a metade das emissões de um empreendimento — a outra metade refere-se ao uso operacional do imóvel.

Um deles é a logística reversa, que engloba procedimentos de pós-venda ou pós-consumo e garante o reaproveitamento ou o descarte correto dos resíduos. A modalidade tem sido apontada como a principal iniciativa para reduzir a geração de resíduos, uma das questões a ser resolvida no processo de descarbonização imobiliária. Segundo o Ipea, a construção civil gera 31 milhões de toneladas de resíduos por ano no Brasil, o que representa cerca de 38% do lixo produzido no país (82 milhões de toneladas).

O CEO da Benx Incorporadora, Luciano Amaral, reconhece que a avaliação do impacto ambiental na fase da construção ainda é pouco praticada no Brasil, mas informa que a empresa está fazendo o levantamento do volume de emissões de suas obras para estabelecer uma meta de redução.

 

Stella Campo Belo: um dos empreendimentos da Even que teve 100% do carbono neutral — Foto: EVEN/DIVULGAÇÃO

 

Segundo ele, a incorporadora adota a logística reversa de materiais em blocos, cimento e aço e a reutilização de madeira, por exemplo. “A geração de resíduos é um dos principais problemas do setor, por isso, ações como a reutilização de materiais e a logística reversa são importantes”, afirma.

No caso da Benx, ainda há outros fatores de mitigação dos danos ambientais, como racionalização do uso de água nas obras e redução do consumo de energia, entre outras iniciativas, que garantiram a conquista do selo Edge pelo Corporate Garden, no Jardim Paulista. O empreendimento, desenvolvido em parceria com a VBI Real Estate, terá nove pavimentos, seis deles com salas corporativas.

A construtora MPD está elaborando um inventário de CO2 nos canteiros de obras para ter a dimensão exata da pegada de carbono nesses locais. “A partir daí, definiremos um leque de ações para reduzir as emissões de gases de efeito estufa. Uma delas pode ser a diminuição em grande escala do uso de caminhões como meio de transporte de materiais”, informa Leonardo Pires de Luca, gerente geral da construtora.

Para o executivo, a implementação de sistemas mais industrializados, que não exijam ajustes, cortes e descartes de materiais, e um projeto que defina a quantidade necessária de materiais a ser utilizada ajudam a reduzir o impacto da geração de resíduos, além de garantir mais otimização nos canteiros de obras. A construtora lançou recentemente o residencial Reffugio 359, na Aclimação, com 18 pavimentos de apartamentos com plantas que variam de 108 a 150 metros quadrados.

 

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Mitigação dos danos ambientais garantiu ao Corporate Garden o selo Edge — Foto: BENX/DIVULGAÇÃO

 

Carbono neutralizado

A utilização de logística reversa e demais práticas de reutilização de detritos também são instrumentos usados pela Even na busca da sustentabilidade. Desde 2021, a companhia vem reaproveitando 98% de todos os resíduos gerados pela construção, garante o diretor de Operações, Marcelo Morais. “No ano passado, fizemos a gestão de 38 toneladas de sucata metálica, 52 toneladas de blocos de concreto, mais de sete toneladas de embalagens de cerâmica e 13 toneladas de ensacados”, lista ele.

Ele enfatiza ainda que, há dois anos, todos os empreendimentos entregues pela Even tiveram 100% do carbono neutralizado. Um deles foi o Stella Campo Belo, duas torres residenciais de luxo com cem unidades cada e plantas de 108 a 143 metros quadrados.

Na incorporadora Gafisa não tem sido diferente. Segundo a CEO, Sheyla Resende, a companhia adota diversas práticas de sustentabilidade que são voltadas à redução de danos ambientais nos canteiros. “Um dos focos principais é a diminuição da geração de resíduos, além da destinação ambientalmente adequada com foco na logística reversa. Além disso, otimizamos o frete para diminuir o consumo de combustível e a emissão de gases de efeito estufa”, afirma.

 

Residencial Reffugio, da MPD: construtora está elaborando um inventário de CO2 nos canteiros de obras para ter a dimensão exata da pegada de carbono nesses locais — Foto: MPD/DIVULGAÇÃO

 

Segundo ela, em uma única obra no ano passado foram reutilizados 750 metros cúbicos de solo limpo. “Isso gerou a economia de 22,7 mil quilômetros rodados e eliminou a emissão de 16 toneladas de CO2 na atmosfera”, diz ela, referindo-se ao empreendimento Chez Perdizes, um residencial de alto luxo com plantas de 180 a 343 metros quadrados.

A conscientização do consumidor de alta renda tem sido importante nos processos para reduzir o impacto ambiental dos empreendimentos, embora muitas vezes ele não consiga enxergar as ações no contexto técnico das obras. Quem avalia é a gerente de Suprimentos da Mozak, Verônica Lima, acrescentando que a construtora procura manter-se atualizada com as boas práticas ambientais em seus projetos.

“As esquadrias que utilizamos já vêm montadas e prontas para instalação, o aço também é cortado e dobrado nas medidas especificadas”, afirma ela, citando ainda a parceria com uma empresa de energia solar, que abastece as obras com energia limpa e renovável. Um dos empreendimentos contemplados é o residencial Brisa, localizado no Leblon, na Zona Sul do Rio, que contará com seis andares e 30 apartamentos de 72 a 189 metros quadrados.

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