Entrevista com Luís Filipe Araújo, especialista de projetos da ArcelorMittal, que concorre ao prêmio de Produtividade com o case Key Moema

Luís Filipe Araújo, especialista de projetos da ArcelorMittal, avalia em entrevista exclusiva para o portal https://produtividadedomesmolado.com.br/ que os principais fatores limitantes ao aumento da produtividade brasileira estão ligados à excessiva carga tributária, à fraca infraestrutura logística, à alta taxa de juros, à burocracia e ao baixo grau de inovação.

“O processo de transformação digital de qualquer indústria é também um processo de transformação das pessoas. O uso da tecnologia está atrelado a uma mudança de hábitos, novas formas de trabalho e, por isso, é um processo gradativo”, explica Araújo.

Segundo ele, a ArcelorMittal vem trabalhando para acelerar esse processo através do uso da tecnologia em armaduras pré-montadas e fôrmas incorporadas, por exemplo, que aumentam significativamente a produtividade em obra.

É com essa solução inovadora que a ArcelorMittal, em parceria com a Tegra e Produtime, concorre ao Prêmio de Produtividade através do case Key Moema, que utilizou armaduras pré-montadas com fôrmas incorporadas na obra.

Usualmente o aço e as fôrmas dos blocos de fundação são montados manualmente na obra. É necessário realizar a escavação do solo considerando um espaço adicional para os carpinteiros montarem as fôrmas de madeira. Com o bloco montado, é realizada a concretagem, e após a cura do concreto, é necessário realizar a desfôrma. Além disso todas essas etapas são acompanhadas com o projeto impresso em papel.

A aplicação do sistema pronto gerou ganhos de produtividade significativos. Enquanto a montagem dos blocos na maneira convencional levou 4h20 para montagem completa (fôrmas e armação), totalizando 9,7hh, a montagem com armaduras pré-montadas e fôrmas incorporadas levou apenas 20 min, totalizando 0,8hh de trabalho útil. Esse resultado representa uma redução de 90% do trabalho.

Os ganhos de produtividade gerados pela aplicação da solução geraram uma economia de 13% na armação e 11% nas formas. Caso a aplicação em questão fosse executada em todos os blocos possíveis (80% da obra), a economia estimada seria da ordem de R$ 12.300.

Confira a íntegra da entrevista:

Pergunta: Com o propósito de unir entidades em torno de objetivos comuns, a Abrainc criou o movimento Do Mesmo Lado – grupo que atua para pensar soluções que propiciem um ambiente de negócios mais favorável e mostre ao poder público e à sociedade as demandas urgentes do mercado brasileiro para superar a crise econômica, aumentar a competitividade, gerar riqueza e emprego. O portal https://produtividadedomesmolado.com.br/ foi criado para reunir as melhores práticas do canteiro de obras e fomentar o crescimento da produtividade da construção civil no país. Como você vê essa iniciativa? Qual a importância de compilar em um mesmo local práticas inovadoras e de sucesso da longa cadeia da construção civil?

Resposta: A indústria da construção possui um dos piores índices de produtividade na economia nacional. Dessa forma, a iniciativa é de extrema relevância para valorizar soluções construtivas com o foco em aumento de produtividade. Disponibilizá-las em um portal facilita o acesso a informações que antes ficariam em posse apenas das empresas envolvidas. Além disso, o uso de cases aumenta a credibilidade de cada solução, já que comprova sua funcionalidade e eficiência em obras reais.

P: Relatório elaborado pelo Fórum Econômico Mundial aponta que, em um ranking global de competitividade que abrange 141 países, o Brasil ocupa a 71ª posição. Segundo o levantamento, o país encontra-se em um “processo lento de recuperação da sua competitividade”. Diversas análises apontam que o Brasil tem todos os recursos para virar uma grande potência mundial. Quais ações poderiam acelerar o processo de competitividade no Brasil e consequentemente elevar nossa posição nesse ranking?

R: A competitividade é sinônimo de qualidade, produtividade, eficácia e eficiência de processos. A competitividade depende de uma evolução favorável de pelo menos quatro coisas essenciais: oferta competitiva de bens físicos no mercado brasileiro, investimentos produtivos, exportações de manufaturados, e geração de empregos qualificados. No caso do setor siderúrgico e também da indústria da construção, os investimentos em Inovação, eficiência produtiva, economias de escala e integração da cadeia são ações essenciais para elevar a produtividades desses segmentos e consequentemente impulsionar a competitividade do país.

P: O secretário de Produtividade e Competitividade do Ministério da Economia, Carlos da Costa, afirmou em evento organizado pelo jornal Correio Braziliense, em dezembro de 2018 – pouco antes de assumir o cargo – que o Brasil poderá crescer 5% ao ano com aumento da produtividade e que o Governo Federal tem trabalhado nessa questão. Quais são os principais gargalos que impedem essa expansão da produtividade no Brasil e consequente crescimento do PIB?

R: Os principais fatores limitantes ao aumento da produtividade brasileira estão ligados à excessiva carga tributária, à fraca infraestrutura logística, à alta taxa de juros, à burocracia e ao baixo grau de inovação. Além disso o Brasil possui hoje uma complexidade grande em termos de regulamentações para quem quer abrir ou fechar um empreendimento, dando menor dinamismo para o ambiente de negócios do país. A baixa qualificação da força de trabalho também se configura como um entrave.

P: A Construção Civil é um dos vários setores da economia que pode se beneficiar com a Inteligência Artificial. De acordo com uma pesquisa da McKinsey, as empresas que investem na tecnologia têm 50% mais chances de lucrar, desde que já utilize programas para coletar e processar dados. As principais aplicações conhecidas atualmente para a construção civil são:

  • Design de projetos: gerar designs a partir de objetivos e variáveis, com menos interação humana, buscando otimizar o layout de projetos de engenharia;
  • Experiência do cliente: proporcionar um melhor atendimento, mais rápido e automatizado;
  • Manutenção preventiva: evitar problemas antes que eles aconteçam;
  • Análise preditiva: analisar dados para fazer projeções para situações futuras, com base em comportamentos anteriores;
  • Segurança do trabalho: antever problemas e evitar acidentes durante a obra;
  • Robotização do canteiro: permitir que as pessoas se concentrem em trabalhos mais intelectuais, menos operacionais.

De acordo com sua experiência, as empresas que compõem a cadeia da construção civil no Brasil utilizam de forma satisfatória nas obras os recursos que a inteligência artificial fornece? É possível ampliar o uso da tecnologia na construção?

R: Acredito que o processo de transformação digital de qualquer indústria é também um processo de transformação das pessoas. O uso da tecnologia está atrelado a uma mudança de hábitos, novas formas de trabalho e, por isso, é um processo gradativo. Na construção civil não seria diferente. Apesar de já existirem diversas iniciativas que visam o uso de inteligência artificial e tecnologia nas obras, ainda há muito espaço para evoluir. O uso do BIM, por exemplo, está em constante evolução no Brasil, mas ainda com menos de 10% de uso. A ArcelorMittal, como mostrado em seu case, vem trabalhando para acelerar esse processo através do uso da tecnologia em armaduras pré-montadas e fôrmas incorporadas, por exemplo, que aumentam significativamente a produtividade em obra.